Black Rabbit e o reflexo da dualidade humana

Black Rabbit (2025) é um thriller sombrio e envolvente da Netflix que, desde a estreia, já chamou atenção na plataforma, reinando entre os mais assistidos. Estrelada por Jude Law (Alfie, 2004) e Jason Bateman (Ozark, 2017), que também atuam como produtores executivos, a série, criada por Zach Baylin e Kate Susman, combina drama fami liar com crime, explorando dilemas de culpa, redenção e lealdade fraternal.

Em diferentes tradições e contextos culturais, a figura do “black rabbit” ligada ao mistério e ao destino. No folclore britânico, coelhos pretos eram vistos como presságios de má sorte, associados a aparições sobrenaturais e ao infortúnio. Na literatura, a representação mais marcante surge em Watership Down (1972), com o “Black Rabbit of Inlé”, uma entidade sombria que guia os coelhos à morte, semelhante a um ceifador, mas não necessariamente maligna. Já na cultura contemporânea, o símbolo é retomado em jogos, HQs e séries como metáfora do oculto, do desconhecido ou de verdades sombrias, funcionando quase como a contraparte obscura do “White Rabbit”, de Alice no País das Maravilhas.

Na série, a história acompanha o empresário Jake Friedkin (Law), proprietário do elegante restaurante Black Rabbit, em Nova York, cuja rotina é abalada pelo retorno de seu problemático irmão Vince (Bateman). Anos afastado, Vince volta marcado por dívidas de jogo, envolvimento com drogas e ligações perigosas com o submundo do crime. O reencontro desencadeia uma série de eventos violentos que expõem antigas feridas e põem à prova a relação entre os irmãos, mostrando que, para os Friedken, a sobrevivência é tanto instinto quanto necessidade.

Frutos de uma família desestruturada e marcada pela violência doméstica, Jake e Vince aprenderam cedo que só podiam confiar um no outro. A narrativa evita criar heróis ou vilões: ambos são apresentados em sua humanidade integral, ora agindo com retidão, ora cedendo a impulsos destrutivos. Essa ambiguidade moral desafia o espectador a navegar entre empatia e repulsa, refletindo sobre a complexidade de escolhas que, muitas vezes, parecem impossíveis.

A fotografia da série é um grande diferencial e que ajuda a transmitir a densidade emocional do roteiro. Com iluminação baixa, sombras marcadas e contrastes fortes, cada quadro reforça o clima de tensão e claustrofobia que tem tudo a ver com a vida noturna misteriosa e perigosa de Nova York. O visual da série cria uma espécie de noir contemporâneo no qual o peso psicológico dos personagens se mistura à estética do submundo urbano retratados na produção.

Outro destaque está nas atuações da dupla de protagonistas. Enquanto Bateman dá vida a Vince, instável, autodestrutivo e constantemente à beira de novas recaídas, Law interpreta Jake, firme e pragmático, mas emocionalmente vulnerável. A relação entre os irmãos é o núcleo central da narrativa: enquanto Vince tropeça repetidamente, Jake, mesmo cansado, o ampara. Essa dinâmica evidencia o poder e o custo do amor incondicional, mostrando como ele pode ser ao mesmo tempo reparador e desgastante.

Afinal, Black Rabbit constrói um retrato cru e poderoso de personagens moralmente complexos e de um vínculo fraterno que oscila entre amor e ódio. Por sua dualidade constante, pode ser envolvente e memorável mas, ao mesmo tempo, sombrio e implacável. Vale a pena espiar.

---

Informações básicas

Sobre: Ao retornar a Nova York, o problemático Vince Friedken ameaça os negócios do irmão, Jake, assim como a estabilidade familiar, desencadeando uma espiral de crime e violência e fazendo aflorar traumas antigos e novos perigos.
Nome original: Black Rabbit
Ano: 2025
Direção: Jason Bateman, Laura Linney, Ben Semanoff, Justin Kurzel
Roteiro: Zach Baylin, Kate Susman
Elenco Principal: Jason Bateman, Jude Law, Cleopatra Coleman, Dagmara Domińczyk, Amir Arison, Harriet Sansom Harris, Dean Norris
Nacionalidade: EUA
Gêneros: Drama, Thriller, Crime
Duração: 8 episódios de aproximadamente 50 minutos
Link para o IMDb: https://www.imdb.com/title/tt14037050/