O ocaso de um herói
Por puro saudosismo – e uma boa jogada de marketing – é que Sylvester Stallone realizou, em 2006, o retorno às telas do personagem que impulsionou sua carreira, em meados da década de 70: Rocky Balboa. Em meio a películas de gangues e ninjas, que começavam a dominar a produção norte-americana, Rocky (1976) destacou-se, transformando-se em um dos ícones cinematográficos da época. Entretanto, com o passar dos anos, tanto o ator quanto o personagem caíram no esquecimento.
Em Rocky Balboa (2006), assim, o herói do boxe está de volta, mas agora velho, um pouco depressivo, sofrendo com a ausência de sua amada, Adrian, que morreu, e com a indiferença do filho, que vê no pai uma sombra ao seu sucesso. Mas permanece orgulhoso de sua perseverança, apesar da humildade ter tomado o espaço anteriormente ocupado por sua imagem de ídolo. Demandando respeito alheio e fingindo estar sempre bem, Balboa vive no ambiente de uma pequena cantina italiana, de sua propriedade, onde suas velhas histórias ainda têm algum valor.
Mergulhado na rotina, Rocky decide retornar aos ringues após ser declarado o melhor boxeador de todos os tempos, em função de uma brincadeira realizada por um canal de TV, que simulou uma luta virtual sua com o campeão dos pesos pesados. Assim, mesmo desacreditado, Balboa aceita o desafio de participar de uma luta de exibição contra Mason “The Line” Dixon, famoso por seus nocautes, mas completamente antipático ao público. Rocky, porém, decide fazer da luta mais do que uma simples apresentação, retornando aos seus tempos de glória e dificultando a vida de seu oponente.
É do roteiro bem organizado, de forma a privilegiar a verossimilhança, que Stallone faz de Rocky um herói humano. Dessa forma, não há uma preocupação em retratar o personagem enquanto alguém invencível, pelo contrário, o filme é bem claro ao dizer que Rocky envelheceu, sim, mas que nem por isso deixa de ser o ídolo de antes. A narrativa expõe, então, a impotência de Balboa, fazendo dela seu trunfo para o sucesso da história para com o espectador. E reflete, também, a possibilidade do envelhecimento dos personagens, até há pouco “empalhados” no tempo – como o caso do Superman –, já que é humano envelhecer, bem como é natural que os heróis permaneçam heróis apesar do tempo.

A mesma composição do personagem, portanto, garante a leveza da narrativa, de forma que o enredo não se passa o tempo todo sobre um ringue, ao contrário do que seria comum no gênero. Como nos outros filmes da série, Rocky Balboa dá ênfase à existência da família, à rotina do boxeador, à sua vida para além da profissão de lutador. Tudo muito bem explorado por Stallone – roteirista, produtor, diretor e protagonista da película –, que conhece o personagem e seu público como ninguém e é o único capaz de reviver, no espectador, esse saudosismo, sem o qual o projeto perde completamente o sentido.
Rocky Balboa, mais do que uma garantia de renovar a carreira de Stallone e dos atores que fizeram parte do projeto – como Burt Young (Paulie) –, é uma daquelas histórias com lição de moral, inspirado na década de 80, e inclusive com referências aos demais projetos da série Rocky, respectivamente de 1976, 1979, 1982 e 1985, quando o cinema idolatrava personagens cuja persistência era suficiente para impulsionar vidas e carreiras, a exemplo do próprio Rocky, de Daniel Sam (Karatê Kid, de 1984), ou mesmo Ritchie Valens (La Bamba, 1987).

A saga do boxeador chega ao fim, então, com a tentativa de provar que a verdadeira vitória não é aquela efetivamente ganha, mas sim quando se consegue continuar lutando enquanto a vida aplica seus golpes. A verdadeira vitória, então, é conseguir “libertar a fera” interior, retirando os “monstros do armário”.
Informações básicas
Sobre: Trinta anos após sua última luta, Rocky Balboa (Sylvester Stallone) sai da aposentadoria e enfrenta o atual campeão dos pesos pesados, Mason ‘The Line’ Dixon (Antonio Tarver), em uma luta de exibição. Enfrentando desafios pessoais e físicos, Rocky busca provar a si mesmo e a seu filho que ainda possui o espírito de um campeão.
Nome original: Rocky Balboa
Ano: 2006
Direção: Sylvester Stallone
Roteiro: Sylvester Stallone
Elenco Principal: Sylvester Stallone, Burt Young, Milo Ventimiglia, Geraldine Hughes, Tony Burton, Antonio Tarver
Duração: 102 minutos
País: Estados Unidos
Link para o IMDb: https://www.imdb.com/title/tt0479143/
