Hermila Guedes em O Céu de Suely

O Céu de Suely

Um céu de esperanças

Em O Céu de Suely, Hermila (Hermila Guedes) é uma jovem de 21 anos que, depois de pouco tempo em São Paulo, retorna junto com seu filho Matheus para Iguatu, sua terra natal, no sertão cearense. Esperando seu namorado em uma cidade que, assolada pela esterilidade da pobreza e do calor, é um lugar de partida, ela não demora muito a se dar conta de que este não retornará para junto dela.

Em meio a um céu que, seja pela luz forte, seja pela escuridão, sempre envolve e obscurece a protagonista, Hermila convive com um forte desejo de mudança, independente do relacionamento com o antigo namorado, João (João Miguel) ou da presença da família, que muito lhe traz conforto emocional. Portanto, resolve ir para Porto Alegre, o lugar mais distante possível que encontrou na rodoviária, e, para conseguir dinheiro, resolve “rifar-se”, usando o pseudônimo de Suely.

É com essa excelente história que o diretor Karin Aïnouz, o mesmo de Madame Satã (2002), demonstra, em O Céu de Suely, uma narrativa minimalista do universo de uma menina que busca fugir do sertão a qualquer custo. A forma como a história é contada não permite que o espectador a julgue pela vontade de ir embora. O filme não deixa de ser mais um bom recorte da vida dos imigrantes que, independentemente do local onde se encontram, buscam sempre uma alternativa desesperada para uma vida melhor.

Não é à toa que a representatividade do desconhecido é o que motiva Hermila: Porto Alegre é o lugar mais distante do qual se é possível chegar saindo do interior do Ceará. Significa uma necessidade de recomeçar, de romper com os laços que a prendem em uma terra árida e quente, e que a lembram da derrota. Hermila talvez saiba que o Rio Grande do Sul não é garantia de sucesso, pois acabara de voltar de São Paulo, porém, é o mais longe que pode se distanciar de sua realidade naquele momento, recriando-se.

É com um excelente roteiro e uma simplicidade estética – porém muito bem realizada, desde a direção de arte à fotografia de Walter Carvalho – que o filme toma o contorno da sensibilidade humana. O calor, o vento, o toque; Aïnouz é capaz de transmitir ao espectador os sentidos vividos pelos personagens do filme, sempre com uma delicadeza que valoriza o silêncio para deixar que as imagens falem e envolvam o público.

Evidentemente um drama, no qual até as piadas chegam a ter outra intensidade pela narrativa angustiante, O Céu de Suely marca pela forma como Karin Aïnouz trabalha seu olhar sobre a periferia, sem estetizá-la. Ou seja, ele não maquia a realidade apenas para que fique interessante. Ao contrário, o diretor busca demonstrar o cotidiano – por mais sem graça que possa parecer – com suas agruras, suas festas e seu realismo, composto por trabalho, álcool ou, até mesmo, sexo.

Com interpretações envolventes, principalmente dos dois protagonistas João Miguel e Hermila Guedes – ambos trabalharam juntos em Cinema, Aspirinas e Urubus (2005) –, e misturando ficção e não-ficção, na qual envolve seus atores principais na vida dos personagens ao utilizar os mesmos nomes, é que O Céu de Suely mostra suas metáforas e demonstra seus contornos: o céu é, na verdade, a representação da felicidade, talvez inalcançável, da protagonista. Assim, o espectador se emociona, se envolve e torce pela personagem, mesmo sabendo que esta é uma história sem fim.


Informações Básicas

Título: O Céu de Suely
Ano de lançamento: 2006
Diretor: Karim Aïnouz
Elenco Principal: Hermila Guedes, João Miguel, Maria Menezes, Zezita Matos
Link para o IMDB: https://www.imdb.com/pt/title/tt0841175/

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